Dom Pedro II. Neg. von Braum. Clément & Cia. Paris. Therese Prinzessin von Bayern. Meine Reise in den brasilianischen Tropen. Berlin 1897

BRASIL-EUROPA

REFERENCIAL DE ANÁLISES CULTURAIS DE CONDUÇÃO MUSICOLÓGICA

EM CONTEXTOS, CONEXÕES, RELAÇÕES E PROCESSOS GLOBAIS


Henrique Alves de Mesquita foi músico e compositor de banda, de música ligeira, de obras sacras. Estudou em Paris, onde compôs Une nuit au Château, ópera comica de Paul de Kock. Acervo A.A.Bispo

 
HENRIQUE ALVES DE MESQUITA

1820-1906


UNE NUIT AU CHÂTEAU

O SALUTARIS



 



PROGRAMA

BICENTENÁRIO DE D. PEDRO II
1825-2025


Une nuit au Château de Henrique Alves de Mesquita.Acervo A.A.Bispo. Copyright
Frère Jacques de Paul de Kock, texto usado por H. A. de Mesquita em Une nuit au Château
Ouverture de Une nuit au Château de H., A. de Mesquita.Acervo A.A.Bispo. Copyright
Couplets. En fait de pluisieurs...Une nuit au Château de H. A. de Mesquita.Acervo A.A.Bispo. Copyright
Cópia de O Salutaris Hostia de uso em igrejas de S. Paulo e do vale do Paraíba. Acervo A.A.Bispo. Copyright

Antonio Alexandre Bispo


Henrique Alves de Mesquita (1830-1906) é um dos compositores brasileiros do século XIX que vêm merecendo especial atenção em estudos musicológicos desenvolvidos desde a década de 1960 no Brasil. Desde 1974/5, esses estudos estão tendo continuidade em âmbito internacional a partir da Alemanha. Henrique Alves de Mesquita foi considerado em pesquisas de arquivos, em colóquios, conferências e aulas em diversas ocasiões. Recordar alguns aspectos do desenvolvimento desses estudos e dos eventos surge como oportuno em ano no qual se comemora o bicentenário de Dom Pedro II. Henrique Alves de Mesquita pôde realizar estudos e alcançar sucesso na Europa com o apoio de Dom Pedro, embora perdendo-o porém a seguir em sequência a decorrências ainda insuficientemente esclarecidas.


Orientacão teórica


As razões do interesse por Henrique Alves de Mesquita na pesquisa musicológica no decorrer das últimas décadas explicam-se em princípio no fato de ter ele realizado estudos, obtido sucessos e editado obras na França, adquirindo assim particular significado para estudos voltados a contextos e processos culturais entre o Brasil e a Europa. 


A intensidade desse interesse torna-se porém apenas compreensível à luz da orientação teórica que tem marcado os estudos musicológicos nas suas interações com aqueles científico-culturais em geral. A peculiaridade dessa orientação diz respeito à condução de estudos de processos culturais a partir da música e, reciprocamente, de estudos musicológicos de cunho inter- e transdisciplinar voltados à música na sua inserção em contextos e processos em dimensões transnacionais. Essa orientação, resultado de reflexões encetadas em São Paulo na década de 1960, determinou o programa de estudos desenvolvido em âmbito internacional desde 1974/75. Essa orientação culturológica, que dirige a atenção a processos que transpassam fronteiras e delimitações torna compreensível o significado e mesmo a atualidade de estudos de Henrique Alves de Mesquita. 


Significado 


O seu significado foi reconhecido há muito pelo fato de Henrique Alves de Mesquita situar-se entre esferas em diferentes sentidos, pelas suas origens étnicas e sociais, pela sua vida, atuações e produção musical. Escreveu obras de grande envergadura e música ligeira, composições sacras e música para banda e de salão, foi instrumentista e regente de corporações militares e civís, organista e professor do Conservatório Imperial de Música. 


As suas composições tiveram grande difusão, tanto as de igreja como as para banda e para uso doméstico. Tendo participado da vida musical parisiense em época de extrema vitalidade da capital francesa, com as suas operetas e vaudevilles, Henrique Alves de Mesquita adquire significado para estudos culturais da música ligeira e popular, da cultura musical urbana de metrópoles em expansão no século XIX.


A sua consideração é de significado não só para o Brasil e para os estudos da presença de brasileiros na França no século XIX como como também para os estudos culturais franceses. Também a sua presença na Europa quando jovem situou-se entre esferas sociais e culturais, entre aquelas marcadas por rigor e seriedade intelectual e artística e aquelas dos divertimentos e da alegria da vida mundana. 


O seu objetivo primeiro foi o de desenvolver estudos no Conservatório de Paris, aperfeiçoando as aptidões que tinham sido reconhecidas nas suas obras, em particular sacro-musicais, o que lhe possibilitou a estadia em Paris com o apoio de Dom Pedro II. Na capital francesa, não teria podido resistir ao fascínio da vida social e cultural marcada pelos divertimentos e alegria e talvez mesmo de um demi-monde, envolvendo-se em situações que, embora pouco esclarecidas, veio ao conhecimento de autoridades brasileiras, obrigando-o a retornar ao Brasil. Henrique Alves de Mesquita, cuja imagem foi desde então prejudicada por uma mácula quanto a seu comportamento, adquire assim significado para estudos sociais, de costumes e de normas e concepções morais. 


Sinopse: formação e trajetória


De origens familiares e étnico-sociais modestas, a formação musical de Henrique Alves de Mesquita deu-se na esfera da prática musical em bandas de música e em igrejas. Tendo recebido lições de Désiré (Desidério) Dorison (1812-1884), distinguia-se já 1847 como executante de instrumentos de sopro em solo de trompete. Após estudos com Gioacchino Giannini (1817-1860) no Liceu Musical e no Conservatório Imperial de Música, abriu uma casa de comércio musicai com um amigo clarinetista, na qual também oferecia ensino musical. 


Como compositor, salientou-se na sua juventude na esfera da música para uso familiar e social, ligeira e popular com modinhas, lundus, romanças, valsas e.o.. Paralelamente, deu continuidade a seus estudos no conservatório, obtendo medalha de ouro em contraponto e órgão como discípulo de G. Giannini e, como prêmio, viagem para o seu aperfeiçoamento na Europa. Foi o primeiro a receber esse subsídio, o que revela a sua sólida formação no âmbito da música sacra e as expectativas que despertava. 


Paris à época de J. Offenbach (1819-1880)


Os seus estudos em Paris a partir de 1857 devem ser considerados à luz dos desenvolvimentos políticos e sócio-culturais da uma época do Império de Napoleão III marcada pelo Contrato de Paris e pela euforia despertada pelo sucesso francês em disputas territoriais com a Prússia. Em Paris, Henrique A. de Mesquita moveu-se entre esferas da vida musical, a erudita do Conservatório e aquela da música de operetas e vaudevilles de teatros, café e estabelecimentos noturnos. 


A sua ida a Paris - e não à Itália - é um dos aspectos de sua trajetória que merecem ser considerados com atenção. Essa escolha pode ser vista como indício de uma reorientação quanto a centros musicais europeus e um interesse por Paris como metrópole marcada por vibrante vida musical urbana, de música ligeira, de operetas e vaudevilles da época de Jacques Offenbach (1819-1880). Esse interesse não teria sido tanto despertado por G. Giannini, representante antes de correntes musicais da Toscana, mas antes por Désiré Dorison, uma hipótese que vem sendo sempre considerada.


Conservatoire de Paris: Bazin (1816-1878)


O seu professor de harmonia no conservatório foi François-Emmanuel-Joseph Bazin. Correspondentemente, Bazin passou a ser considerado com especial atenção nos estudos musicológicos referentes a Henrique Alves de Mesquita. Bazin nasceu em Marselha, foi aluno no conservatório de Henri Montan Berton (1767-1844) e Fromental Halévy (1799-1862), mereceu o primeiro Prix de Rome pela sua cantata Loyse de Montfort, em 1840. Ao retornar, passou a dar aulas de canto no Conservatoire, e era, desde 1849, professor de harmonia. 


Mantendo as expectativas no Brasil que eram dirigidas sobretudo à sua carreira como compositor de obras de teor sério, enviou ao Rio de Janeiro uma Missa, executada sob a regência de Francisco Manuel da Silva (1795-1865) em 1860 na igreja da Santa Cruz dos Militares. Mantendo os seus elos com o Conservatório Imperial, enviou uma abertura de título L’Étoile du Brésil, executada na cerimônia de entrega de prêmios em 1861. Henrique Alves de Mesquita foi assim, entre os brasileiros, um dos compositores que mais expectativas despertavam ao redor de 1860 no Rio de Janeiro.


Vie parisienne: operetas, vaudevilles


Henrique Alves de Mesquita foi, como discípulo de Bazin, colega de Alexandre Charles Lecocq (1832-1918), também um compositor que adquiriu renome com as suas operetas, alcançando porém sucesso sobretudo após 1870, sucedendo em popularidade a Jacques Offenbach, estreitamente marcado pela época de Napoleão III. Os anos da presença de Henrique Alves de Mesquita precederam àqueles do maior sucesso do seu colega Lecocq. A sua época foi aquela marcada pelo brilho de Paris dos anos que antecederam aquele da guerra de 1870 e do fim do III Império com a vitória alemã.


O interesse de Henrique Alves de Mesquita por música mais ligeira, de óperas cômicas, operetas e vaudevilles era conhecido no Brasil. A sua ópera O vagabundo - A infidelidade, sedução e vaidade punidas - foi levada em cena no Teatro Lírico Fluminense pela Ópera Nacional em 1863. 


A perda de sua bolsa de estudos e a interrupção de suas atividades na Europa em 1866 surge como um fato de gravidade também sob o aspecto de seu prestígio no Brasil e que levanta questões quanto às suas razões. Tem-se cogitado que as suas relações com o ambiente de teatro de operetas e vaudevilles de Paris e envolvimentos de cunho pessoal levantaram questões de moral e comportamento em círculos da representação brasileira e que essas transmitiram informações sobre a conduta do estudante a conhecimento de Dom Pedro II. Essas conjecturas, não suficientemente fundamentadas, necessitam ser consideradas com reservas, sobretudo por colocar o compositor em luz negativa. É possível que a suspensão da bolsa e o retorno de Henrique Alves de Mesquita tenham sido resultado da situação do Brasil em época da Guerra do Paraguai.


Retornando ao Rio de Janeiro, passou a atuar como músico de orquestra do Alcázar e maestro do Teatro Fênix Dramática, regendo algumas de suas operetas.


Joie de vivre e vida profissional


Henrique Alves de Mesquita não descuidou de suas atividades como músico e compositor de igreja. De 1872 a 1877 foi organista da igreja de São Pedro e nessa época compôs várias obras para o culto. Em 1872, conseguiu um cargo de docência no Conservatório como professor de solfejo e harmonia elementar. A sua carreira como docente teve sequência com a sua nomeação como professor de instrumentos de metal, em 1890, já sob o regime republicano, o que perdurou até 1904. 


Desenvolvimento das pesquisas


Os estudos de Henrique Alves de Mesquita na década de 1960 em São Paulo partiram das informações transmitidas em obras publicadas e consideradas em cursos de História da Música. Composições suas, sobretudo aquelas para piano, tinham sido amplamente difundidas no passado, eram porém consideradas como de salão, sendo pouco valorizadas e não aceitas em programas de conservatórios. 


O seu nome era conhecido de composições religiosas que tinham pertencido ao repertório de algumas igrejas em anos anteriores ao Concílio Vaticano II, mas que passavam a ser anematizadas. Um delas era o seu O salutaris.


Henrique Alves de Mesquita passou a ser reconsiderado com a tomada de consciência da necessária superação de modos de pensar e proceder nos estudos musicais e culturais marcados por categorizações de objeto de estudos e de áreas ou esferas, o que desvalorizava expressões até então vistas como semi-eruditas ou semi-populares, de música de salão, de banda, de música ligeira e popular.


Essa orientação marcou os estudos do movimento Nova Difusão e do seu Centro de Pesquisas em Musicologia. Pesquisas realizadas em acervos de São Paulo e de cidades do interior revelaram a difusão e o cultivo não só de composições para uso familiar como também de obras sacro-musicais do compositor e o seu significado na vida religiosa e musical de comunidades. O interesse pelo estudo da produção musical mais ligeira de Henrique Alves de Mesquita foi despertado em reflexões concernentes à Estética, que então passava a ser tratada sob perspectivas teórico-culturais, tanto empíricas como históricas. 


A publicação de estudo sobre Henrique Alves de Mesquita no livro Três vultos históricos da música brasileira (Rio de Janeiro: D. Araujo 1970) de J. Baptista Siqueira (1906-1992) em 1970 forneceu impulsos para o desenvolvimento dos estudos. 


150 anos de Henrique Alves de Mesquita


Um marco no desenvolvimento dos estudos da música popular, doméstica e de salão foi conferência e concerto  comemorativo do 7 de setembro de 1970, ano do bicentenário de Henrique Alves de Mesquita realizado no Centro de Pesquisas em Musicologia da Nova Difusão. Entre as obras então consideradas e executadas, apresentaram-se composições de Henrique Alves de Mesquita como as polcas La brésilienne e Camões, salientando-se  A Coroa de Carlos Magno, do seu Bailado das Quatro Nações, de 1873. em redução para piano a 4 mãos de Arthur Napoleão (1843-1925).  


Questões de Estética


Esse interesse por uma esfera intermediária da vida e da produção musical, do semi-erudito e do semi-popular, da música de salão, popular e de banda continuou a marcar as reflexões na área da Estética, compreendida esta não no sentido filosófico, mas sim na sua relatividade sob o aspecto teórico-cultural. Essas reflexões impunham-se em época marcada por debates sobre a introdução da área da Estética em cursos de Licenciatura em Música e Educação Musical do Instituto Musical de São Paulo


Como resultado desses debates, a Estética passou a ser tratada em estreitas relações interdisciplinares e em união pessoal com a Etnomusicologia.problemática estética do século XIX e suas extensões no XX foi tema tratado na área de Estética da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. A questão do procedimento adequado no confronto com obras que surgem como questionáveis do ponto de vista estético levou à formação do grupo coral Faunos da Pauta, o que motivou o levantamento de música considerada como de salão e canções populares do século XIX e XX. Esses trabalhos foram realizados em cooperações com o Centro de Pesquisas em Musicologia da Nova Difusão e com o Museu de Artes e Técnicas Populares (Folclore), onde a atenção da pesquisa empírica passava a ser dirigida a uma atualização de concepções e à cultura do quotidiano. 


Internacionalização dos estudos


O estudo da vida e da obra de Henrique Alves de Mesquita veio ao encontro da atenção da época na musicologia alemã referente ao século XIX em países extra-europeus. Encontrava-se neste sentido um projeto editorial de amplas dimensões, estando em preparação o volume dedicado à América Latina no século XIX. 


A necessária ampliação de perspectivas para além de fronteiras européias evidenciava-se também em sobretudo na esfera da música sacra em século que foi marcado por movimentos eclesiásticos restaurativos e atividades missionárias que determinaram desenvolvimentos. Em ano no qual se celebrava os 450 anos de Palestrina, a atenção voltava-se não só para o século de Palestrina, mas também e sobretudo para a continuidade de concepções e práticas compositórias referenciadas segundo o compositor e normas tridentinas, em particular para o movimento restaurativo do século XIX nas suas múltiplas contextualizações. O redescobrimento de desenvolvimentos próprios nos vários contextos regionais passou a ser discutido sob o aspecto de uma fundamentação de procedimentos perante as mudanças litúrgico-musicais da época pós-conciliar, sobretudo em países como o Brasil.


A necessidade de uma visão mais diferenciada do século XIX e do estudo de compositores, obras, concepções e práticas musicais caídas no esquecimento ou pouco consideradas foi tema, em 1976, dos Dias da Música de Kassel (Kasseler Musiktage). Entre outros aspectos, nele manifestou-se o interesse de musicólogos por processos de recepção musical, o de uma "Estética Trivial", destacando-se neste sentido o musicólogo Carl Dahlhaus (1928-1989).


Colonia - cidade de Jacques Offenbach


O interesse despertado pela sua vida e obra em círculos musicológicos e de estudos brasileiros de Colonia foi decorrente do fato de ser Colonia cidade de nascimento de Jacques Offenbach. Em encenações na Ópera de Colonia, obras de Offenbach mantinham-se vivas, despertando a consciência para a necessidade de uma consideração mais atenta da sua vida e produção musical. O compositor que, tendo-se transferido para a França, alcançou projeção internacional e duradoura sobretudo com suas obras para cena, vaudevilles, operetas e óperas cômicas, não podia deixar de ser considerado com mais atenção na musicologia em Colonia.  


Em 1975, realizaram-se nesse sentido consultas nas bibliotecas do Conservatório e da Biblioteca Nacional em Paris de à procura de fontes e de estudos que pudessem situar contextualmente a estadia de Henrique Alves de Mesquita na França. Essas pesquisas possibilitaram encontrar fontes que serviram a análises, conferências, aulas e concertos nas décadas seguintes.


Romances populares: Paul de Kock (1793-1871)


A principal obra de Henrique Alves de Mesquita criada em Paris foi a ópera cômica Une nuit au chateâu, com libreto de Paul de Kock, publicada em edição de extraordinárias qualidades de impressão por Choudens, Père et Fils, sendo a obra de propriedade no Brasil de A. Narcizo e Cia no Rio de Janeiro.

 

Henrique Alves de Mesquita baseou-se no texto Frère Jacques [Une nuit au château) de Paul de Kock.O texto foi publicado em Paris em 1856 por Gustave Barba, edição ilustrada com 31 vignettes. H. A. de Mesquita trata musicalmente de um texto dos mais populares autores de romances, novelas e de teatro da literatura francesa do século XIX, muitos dos quais foram empregados em vaudevilles e publicados em revistas ilustradas. 


Os romances de Paul de Kock eram marcados por conteúdos de cunho sensual, ligeiramente erótico, onde trata de costumes e defeitos da sociedade parisiense, o que o torna hoje significativo para estudos sócio-culturais de crítica social e estudos de cultura popular. Filho de um banqueiro dos Países Baixos, guilhotinado em 1794, primeiramente voltado à carreira financeira, Paul de Kock passara a dedicar-se desde a sua juventude à literatura. Várias de suas publicações foram traduzidas para o alemão. Entre as suas mais populares obras encontram-se L’Enfant de ma femme (1812), Gustave le mauvais sujet (1821), La Laitière de Montfermeil (1827), La Femme, le mari et l’amant (1829), Le Cocu (1832), Le barbier de Paris (1833), La Pucelle de Belleville (1834) e La Bouquetière du château d’eau. 


Pondo em música Frère Jacques, o jovem Henrique Alves de Mesquiita revelou interessar-se por essa literatura popular. Conheceu provavelmente o seu autor. Este, homem de posses, possuia um casa de campo para veraneio em Bois de Romainville, onde realizava festas e representações teatrais ao ar livre. Também ele foi representante de uma época que se encerrou com a guerra franco-prussiana, deixando de escrever em 1870.


O fato de vários romances de Paul de Kock terem sido publicados em alemão.despertara há muito o interesse por sua obra na Alemanha. Em 1857, Heinrich Eisner publicou, em Stuttgart, o livro Paul de Kock. Em 1874 editou-se a biografia de Julien Lemer em Paris. O interesse por Paul de Kock nos estudos de literatura em Colonia já eram de longa data. Em 1928, Friedrich Beyer defendera a sua tese na Universidade de Colonia sobre Paul de Kock e seu mundo (Der Romanschritsteller Charles Paul de Kock und seine Welt). Em 1941, Gertraut Malik apresentara a sua dissertação sobre o contexto histórico-cultural e histórico-social nos romances de Paul de Kock na Universidade de Praga (Der kulturhistorische und sozialgeschichtliche Hintergrund in den Roman von Paul de Kock).


Textos em português em Une nuit au chateâu


Henrique Alves de Mesquita publicou na sua partitura uma versão dos títulos de suas partes em português.

Air - Quels dous moments - Ah! que prazer (Le Comte)

Couplets - En fait de plaisirs et de belles - Em casos d’amor, meu amigo (Le Comte)

Choeur - Nous v’là - Aqui (…)

Quatuor - V’là Monseigneur qui s’avance - Eis ahi vem nosso amo (Collete, Mathrine, Alain, le Comte)

Duo - Aux champs, nous avons pour usage - Em paz nós gosamos a vida (Colette, le Comte)

Couplets - Vous que c’fripon d’amour engage - Homem que seja ciumento (Jérôme, Alain, Colette)

Mélodrame - …

Duo et trio - Avançons je ne vois personne - Eis me enfim! Da noute o socego (Colette, Jérôme le Comte)

Final - Banissons la tristesse - A tristesa sombria (Colette, le Comte, Choeur)


Hnrique Alves de Mesquita e a música sacra


Um dos focos de atenção nos estudos de Henrique Alves de Mesquita foi o da sua produção sacro-musical com base em fontes levantadas no Brasil e discutidas sob o aspecto de suas relações com processos de reformas de cunho restaurativo no século XIX. As relações entre a tradição da música sacra coro-orquestral que passava a ser vista como decadente e as novas tendências restaurativas foram consideradas no exemplo de obras de um autor que como poucos outros se situou entre esferas e tendências.


Entre as suas composições religiosas, duas foram escolhidas para serem tratadas em colóquios de pesquisadores e doutorandos levados a efeito na Universidade de Colonia em 1978 e 1979: O salutaris e um Ave Maria. O O salutaris Hostia de H. Alves de Mesquita diz respeito à concepção central do Catolicismo, ou seja, à Eucaristia e à adoração do S.Sacramento. 


Tratando musicalmente desse texto, o compositor inseriu-se numa secular tradição, uma vez que se trata de um dos hinos eucarísticos atribuídos a S. Tomás de Aquino e cantados nas laudes do Ofício da festa de Corpus Christi. Essa festa, com a sua grandiosa procissão, com a presença de todos os grupos e corporações da sociedade, representou sempre um dos pontos altos da vida religiosa e cultural do calendário em cidades do Brasil Entre elas, salientam-se em particular cidades do Vale do Paraíba, onde o hino eucarístico de Henrique Alves de Mesquita, ao lado de outras de suas composições, pertenceu ao repertório de igrejas de cidades como São Luís do Paraitinga e Cunha. 


Desenvolvimentos subsequentes


Henrique Alves de Mesquita foi objeto de atenção em encontros, conferências e aulas nos anos que se seguiram. Foi considerado no âmbito do projeto Música na Vida do Homem/Uma História Universal da Música do IMC/UNESCO em 1987, na série de cursos sobre a Música no Encontro de Culturas e de História da Música em Contextos Globais das universidades de Colonia e Bonn a partir de 1997. Obras suas foram executadas em sessão inaugural do centro de estudos da Academia Brasil Europa em Colonia em 1998, sob égide da Embaixada do Brasil, assim como em seminários dedicados á música e à pesquisa musical do Brasil no ano 2000. Henrique Alves de Mesquita foi considerado no primeiro colóquio universitário de Cultural Studies no âmbito dos estudos musicológicos na Alemanha em 2004.



Alguns materiais disponíveis em páginas da Revista Brasil-Europa na Internet


Henrique Alves de Mesquita (1830-1906) e o milieu da Closerie des Lilas. Sobre Une nuit au chateau e/ou Noivado em Paquetá  

Brasileiros em Paris  

Dança na história da música no Brasil  

Carlos S. Cavalier Darbilly (1846-1918). Da "Musique musardienne" e Opéra comique ao teatro de revista  

 

D. Pedro II. Kaiser von Brasilien. Phot. Melsenbach Riffarth München. V. Braun Clément, Paris. Da obra: Therese Prinzessin von Bayern, Meine Reisen on den Brasilianischen Tropen. Berlin D. Reimer (Erst Vohsen) 1897.

Este texto é extraido da publicação

Antonio Alexandre Bispo. Pedro II 200 Anos. Música em estudos euro-brasileiros do século XIX. Gummersbach: Akademie Brasil-Europa & Institut für Studien der Musikkultur des portugiesischen Sprachraumes e.V.
416 páginas. Ilustrações. (Série Anais Brasil-Europa de Ciências Culturais)
Impressão e distribuição: tredition. Ahrensberg, 225.


ISBN 978-3-384-68111-9


O livro pode ser adquirido aqui

Pedro II Kaiser von Brasilien. Phot. Melsenbach Riffarth München. V. Braun Clément, Paris. Da obra: Therese Prinzessin von Bayern, Meine Reisen on den Brasilianischen Tropen. Berlin D. Reimer (Erst Vohsen) 1897.
Druck und Verteilung: Tredition. Ahrensberg