BRASIL-EUROPA
REFERENCIAL DE ANÁLISES CULTURAIS DE CONDUÇÃO MUSICOLÓGICA
EM CONTEXTOS, CONEXÕES, RELAÇÕES E PROCESSOS GLOBAIS
Antonio Alexandre Bispo
Para estudos do século XIX em contextos Brasil-Europa , a consideração de D. Pedro II é importante e mesmo indispensável. D. Pedro II, com a sua sólida formação e seus múltiplos interesses, filosóficos, científicos, técnicos, artísticos e musicais, pelo apoio que concedeu a pesquisadores, artistas e músicos, pelas suas relações com instituições de estudos, academias e museus de vários países, pela sua presença na vida intelectual, científica, cultural e musical na Europa, foi um grande diplomata cultural do Brasil e uma personalidade modelar de representante esclarecido de Estado do século XIX.
A condução de estudos culturais a partir da música permite aguçar a atenção a situações e desenvolvimentos sob o aspecto da cultura imaterial, a disposições e a processos sócio-psicológicas em diferentes contextos e épocas. Brasileiros estudaram e fizeram carreira na Europa com o apoio de D. Pedro II, músicos europeus atuaram no Brasil, compositores de projeção internacional a ele dedicaram obras. Liszt realizou concertos em sua homenagem em Viena, D. Pedro II acompanhou as tendências do pensamento e da criação de Wagner e esteve presente na inauguração da Casa de Festivais de Bayreuth em 1876. A partir de fontes levantadas em arquivos, consideram-se neste volume compositores brasileiros e europeus que viveram e atuaram no Brasil ou que dedicaram obras a D. Pedro II.
Desenvolvimento dos estudos
A consciência do significado de D. Pedro II para os estudos histórico-musicais foi despertada na década de 1960 em estudos conduzidos no Conservatório Musical Carlos Gomes de São Paulo, então em fase de introdução de estudos superiores. A constatação do apoio concedido por D. Pedro II a Carlos Gomes, cuja carreira internacional foi por ele possibilitada, assim como os sentimentos de reconhecimento, gratidão e lealdade que o compositor sempre a ele dedicou, foi ponto de partida para o interesse por D. Pedro II nos estudos histórico-musicais. O teor dos textos de Vicente Cernicchiaro na sua Storia della Musica nel Brasile (Milão 1926), então ainda considerado em cursos de História da Música contribuiu ao reconhecimento do papel exercido por D. Pedro II não só na promoção de Carlos Gomes como também de outros músicos da segunda metade do século XIX. A execução e gravação de obra de Saverio Mercadante a ele dedicada por coro e orquestra da Rádio do Ministério da Educação do Rio de Janeiro dirigiu a atenção aos vários compositores que ofereceram obras a D. Pedro II e que davam testemunho do renome que o gozava em meios artísticos europeus.
Esses estudos foram favorecidos pela necessidade reconhecida como cada vez mais prmente de revisão de visões e interpretações do século XIX transportadas pela literatura historiográficada marcada por ideários nacionalistas. A orientação da atenção a processos históricos e suas interações através de fronteiras que marcou o movimento Nova Difusão e seu Centro de Pesquisas em Musicologia, formalizado como entidade em 1968, trouxe á consciência que não só compositores e obras, mas também personalidades que desempenharam papel relevante no apoio a músicos e na vida musical do Brasil no século xIX deviam ser considerados em estudos musicológicos nas suas relações com processos político-culturais e sociais. Os estudos puderam basear-se em textos anteriormente publicados, entre eles aqueles que consideravam relações entre D. Pedro II e R. Wagner, entre eles de Américo Jacobina Lacombe (1909-1993).
A publicação das cartas do representante do brasil a Wagner em órgão do Instituto Ibero-Americano de Berlim foi tratada em curso de História da Música na Faculcade de Filosofia, Letras e Ciências da Universidade de São Paulo e em cursos de História da Música no Conservatório Jardim América, sede do movimento Nova Difusão. A sua discussão com pesquisadores de Wagner e o seu tratamento em cursos de pós-graduação em História da Música da Faculdade de Música e Educação Musical do Instituto Musical de São Paulo determinou desenvolvimentos seguintes. A internacionalização dos estudos foi marcada pela execução por coro e orquestra da faculdade da Missa São Pedro de Alcântara de Elias Álvares Lobo (1834-1901) oferecida a D. Pedro II em 1974.
Uma das primeiras iniciativas no desenvolvimento de projeto musicológico brasileiro na Europa foi estadia em Berlim em janeiro de 1975 para a consulta de materiais de bibliotecas, em particular também dos pressiupostos da publicação do Instituto Ibero-Americano referentze ás relações do representante diplomático brasileiro com R. Wagner. Esses estudos levaram à participação brasileira em estudos e encontros no Ano Wagner de 1976, marcado pela celebração do centenário da Casa dos Festivais e da presença de D. Pedro II em Bayreuth. Os estudos foram ali desenvolvidos com especialistas de Wagner, em diálogos com regentes e cenógrafos, assim como em debates em seminário realizado pelo germanista Hans Mayer. (1907-2001). Os trabalhos levaram à cnsulta de publicações do movimento wagneriano e de sua difusão no Brasil.
O significado do Brasil na Europa dp século XIX personificado na pessoa do imperador brasileiro foi fator de promordial relevância na concentreação de interesses no II Império no projeto musicológico brasileiro voltado ao desenvolvimento de uma musicologia em contextos globais desenvolvido a partir do Instituto de Musicologia da Universidade de Colonia. Em encontros e colóquios com a participação de pesquisadores do Instituto Português-Brasieiro de Colonia, preparou-se tese que foi defendida em 1979.
A visão esclarecida de D. Pedro II em assuntos religiosos, contrastando com aquela de sua filha Isabel, regente por três vezes do Império, foi salientada em várias ocasiões, determinando a orientação crítica das análises de desenvolvimentos causados pelo movimento restauracionista eclesiástico no Brasil e que foi em grande parte extensão do Cecilianismo cujo principal centro foi Ratisbona na Alemanha. Procurou-se salientar o sighnificado para estudos de processos históricos-culturais em contextos globais da então Província de São Paulo que, paralelamente a seu extraordinário desenvolvimento agrícola, econômico, industrial, possibilitado em grande parte pela imigração européia, foi marcada de forama altamente questionável pelo movimento sacro-musical restauracionista através de autoridades eclesiásticas e de ordens religiosas. São Paulo torna-se assim de significado para estudos críticos de desenvolvimentos eclesiásticos do século da Restauração em dimensões que ultrapassam o âmbito brasileiro.
Os estudos e debates suscitaram e fundamentaram o I Simpósio Internacional Música Sacra e Cultura Brasileira, realizado em São Paulo em 1981, no âmbito do qual fundou-se a Sociedade Brasileira de Musicologia. Uma das sessões do simpósio foi dedicada à música no Segundo Império e à grave problemática da restauração religioso-musical que teve como um de seus centros Itú e sua região. com as suas consequências políticas e culturais.
Os estudos dedicaram particular atenção ao papel da música nas viagens de D. Pedro II à Europa, assim como os preitos de reconhecimento que lhes prestaram artistas e músicos, entre eles Franz Liszt (1811-1886). Com a fundação do Instituto de Estudos da Cultura Musical do Mundo de Lingua Portuguesa em 1985, a atenção passou a dirigir-se a contextos mais abrangentes. Relações de D. Pedro II com a vida cultural, intelectual e musical de países como a Grécia, assim como o seu significado para a história da arqueologia e dos estudos da Antiguidade foram analisados e considerados em textos divulgados pelo órgão do instituto e da Sociedade Brasileira de Musicologia.
Uma particular atenção foi dada à imagem de D. Pedro II em meios culturais do sul da Alemanha, em particular em Munique. A obra a ele dedicada da princesa Teresa da Baviera que realizou viagem de pesquisas pelo Brasil (Therese Prinzessin von Bayern, Meine Reise in den Brasilianischen Tropen, Berlin: Dietrich Reimer, 1897), trouxe à consciência o seu significado para estudos etnológicos, o que foi considerado em projeto dedicado às culturas musicais indígenas do Brasil possibilitado pelo ministério das Relações Exteriores da Alemanha em cooperações com instâncias governamentais do Brasil a partir de 1993.
Materiais disponíveis na Revista Brasil-Europa e em páginas da Academia Brasil-Europa e do ISMPS
D. Pedro II. und die Wissenschaften. ➢
Sabedoria e Cultura. Sessão Pedro II°. ➢
Pedro II nos festivais de Bayreuth de 1876. ➢
D. Pedro II e a ceia na tumba de Atreus. ➢
Homero e a visita de D. Pedro II a Micenas. ➢
Heinrich Schliemann (1822-1890) e D. Pedro II em Micenas em 1876. ➢
Sim, sou Príncipe de Saxe-Coburg, mas em primeiro lugar brasileiro. ➢
Wagner e o Brasil na mediação de E. Ferreira França Filho (1828-1888). ➢
Estudos bismarckianos da perspectiva dos estudos euro-brasileiros. ➢
Os Hohenzollern e a Casa de Saxe-Coburg. ➢
D. Pedro II em Nafplio/Nauplia - a „Napoli di Romania“. ➢
D. Pedro II em Atenas e Simon Georg von Sina (1810-1876). ➢
Franciscanos alemães na cidade de Pedro II sob a República. ➢
D. Pedro II na Berliner Gesellschaft für Anthropologie, Ethnologie und Urgeschichte. ➢
O Brasil no diário do oficial Emanuel Karl Heinrich Schmysingk von Korff (1826-1903). ➢
Saxônia e o Brasil. Friedrich August II (1797-1854) e seus elos com a família imperial brasileira. ➢
J. F. Julius Schmidt (1825-1884) e D. Pedro II. Astronomia e Geologia. ➢
A. Rizos Rangavis (Rangabé) (1809-1892). Arqueologia, Literatura e Teatro na Diplomacia Cultural. ➢
Abertura ao Exterior e europeizações. 150 da abertura de rios brasileiros ao comércio mundial. ➢
Pedro II° e círculos britânicos na América do Norte. ➢
"Da arte e da Humanidade com relação à civilização em geral" e, em particular, à Alemanha e ao Brasil. A. Iberê de Lemos (1901-1967). ➢
A tarantella napolitana e o adeus à Itália em Maria Petrowna. ➢
Do ultramontanismo e da arquitetura da unidade com Roma . ➢
Florença e Brasil nos estudos de processos culturais. ➢
Eos da pesquisa nórdica com a história científica do Brasil. ➢
A recepção do Nórdico no Brasil. ➢
Alemães no São Francisco: a ferrovia de Piranhas a Jatobá e implicações culturais. ➢
A Villa Kyrial e a Trialogia da Noite. ➢
Achille Arnaud "Napolitano" (1832-1894) e Gennaro Arnaud (?-1884). ➢
"Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira". Sorbonne, 1910. ➢
Hugo Bussmeyer (1812-1912). Para a história da pesquisa. ➢
Pontes na história das relações Brasil/EUA/Europa. ➢
Therese von Bayern (1850-1925) - Teresa da Baviera. ➢
O Brasil e o ideal mozartiano. ➢
Nápoles e Rio de JaneiroArcangelo Fiorito (1813? - 1887). ➢
Historiografia do Romantismo. Redições do Brésil français e da France Antarctique. ➢
Carlos Gomes na Musicologia e nos Estudos Culturais. ➢
Deutschland/Brasilien in Musik- und Kulturwissenschaft. ➢
Panamá-Brasil-Europa em estudos de processos e relações culturais. ➢
Hans von Bülow (1830-1894) e a música no Brasil. ➢
Exulta, Oh Brasil! Saverio Mercadante (1795-1870). ➢
O mestre-capela imperial brasileiro Adolf Maersch. Coburg e a Donzela da Mangueira. ➢
A chegada da Corte Portuguesa ao Brasil. ➢
D. Carlos I° (1863-1908) nos estudos histórico-culturais. o Rei Diplomata. ➢
Conhecimentos do Brasil na Boêmia. Franz Heiderich (1893). ➢
A Academia Română e a diplomacia cultural. Pedro II. ➢
125 anos da execução do Hino da Independência de Pedro I° em Baden-Baden. Dieter Kerkhoff sôbre a segunda estadia de Pedro II na Europa, 1875-77. ➢
Relendo pesquisa de Dieter Kerkhoff sôbre a primeira viagem de D. Pedro II à Europa (1871). ➢
Itália - Brasil - Estados Unidos nas comemorações do "Ano Carlos Gomes" de 1986. ➢
D.ingos José Gonçalves de Magalhães sob o signo de Alphonse de Lamartine (1790-1869). ➢
Poesias de Jean Reboul (1796-1864) a Pedro II°. ➢
Madagáscar no Rio de Janeiro. Oscar Pfeiffer (1858). ➢
Vínculos entre as casas reinantes na Europa no período guilhermino. ➢
O São Francisco e a cachoeira de Paulo Afonso na Alemanha do século XIX. Adolf Glaser. (1829-1915). ➢
Isabelle Comtesse de Paris (1911-2003) e os estudos culturais. ➢
Contemplatividade em paradigmas do Homem e estudos teórico-culturais. ➢
Liholiho ou Kamehameha II (1797-1824) e a rainha Kamamalu (1802-1824) no Brasil. ➢
Alfredo Colombani (1869-1900): Carlos Gomes na história da ópera italiana. ➢
Este texto é extraido da publicação
Antonio Alexandre Bispo. Pedro II 200 Anos. Música em estudos euro-brasileiros do século XIX. Gummersbach: Akademie Brasil-Europa & Institut für Studien der Musikkultur des portugiesischen Sprachraumes e.V.
416 páginas. Ilustrações. (Série Anais Brasil-Europa de Ciências Culturais)
Impressão e distribuição: tredition. Ahrensberg, 225.
ISBN 978-3-384-68111-9
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